quinta-feira, 7 de julho de 2011

Viviendo una vida loca

Dia 30, à tarde, sai da faculdade, às 14h15, para resolver algumas coisas na rua. E durante meu trajeto até a rua XV de Novembro, reparei a presença de malabaristas nos semáforos - um na Princesa Isabel, outro na João Colin e outro ainda na Blumenau. Por isso, fui pensando pelo caminho que seria muito interessante entrevistar algum deles, a fim de descobrir sua história, que convenhamos, aparentemente não é muito parecida com a da maioria da massa urbana.

Quando voltei para a escola, apenas o malabarista que estava na Princesa Isabel continuava lá. Entrei no Bom Jesus, pensei um pouco em como abordá-lo, falei com a professora Maria Elisa, peguei uma câmera no estúdio de foto e sai. Uma chuva que Deus mandava! Antes de atravessar a rua, na Princesa Isabel, vi que dois malabaristas estavam sentados em frente a uma loja de calçados. Atravessei e fui me aproximando. Quando cheguei perto, me apresentei dizendo que era estudante de jornalismo e gostaria de fazer uma matéria com eles. Os dois aceitaram.

Ao me sentar ao lado de um deles, o que estava mais distante disse algo que não entendi, mas percebi que não era brasileiro. Me disse, então, que era uruguaio. O outro, argentino.

Nem me lembro qual pergunta fiz a eles primeiro, só sei que não anotei nada em meu bloquinho, apenas seus nomes: Juan Pablo, 22 anos, argentino, e Maximiliano Danyelo, 24 anos, uruguaio. A entrevista se tornou uma conversa informal, e no fim das contas também fui entrevistada.

Maximiliano disse que entre os 17 e 18 anos saiu de casa com o objetivo de conhecer a América Latina. O propósito era viajar e depois voltar para casa, terminar o ensino médio e fazer faculdade, mas a aventura agradou tanto que voltar para o Uruguaio e levar a vida que todos levam não era mais seu objetivo. Segundo ele, quando saiu de casa tinha no bolso o equivalente a R$ 20,00. E de cidade em cidade, um trabalho aqui outro ali, passou por Bolívia, Chile e Brasil – devo estar me esquecendo de algum outro local. Ele me contou que foi casado com uma baiana durante dois anos, mas definitivamente, as regras já não o agradavam mais. E, por sinal, elogiou muito os baianos, muito acolhedores e humildes.

Chegou a voltar para o Uruguai, ficou um mês lá e há um mês está na estrada de novo. Passou por Itajaí, onde trabalhou com o companheiro argentino em uma obra por 20 dias, e há três chegou à cidade das Flores. Entusiasmados, os dois falaram também de Floripa, cidade maravilhosa! Como se eu não soubesse! Mas, confesso que senti um certo constrangimento de perguntar à Maximiliano como era a Bahia. Poxa, eu, brasileira, vou perguntar a um uruguaio como é um estado do meu país?! Deixa pra lá...

Intrigada, perguntei aos colegas onde eles dormiam. Me disseram, então, que um dia era em albergue, no outro em algum hotel e às vezes no pátio da igreja. Preferiam comer bem e dormir como desse. Inclusive, no dia anterior ao de nossa conversa, tinham dormido na igreja. Outra pergunta que não podia faltar: quanto vocês ganham??!! Um certo suspense, umas palavras indecifráveis e com uma certa insistência saiu: entre R$ 30,00 R$ 35,00 por dia.

E em relação aos seus pais? O que pensavam sobre esse estilo de vida? Maximiliano disse que o pai não concorda muito com a vida do filho, mas foi a opção dele... “Fazer-se-á” o quê? Não posso falar com convicção, mas parece que Juan não fala com a família. Quando sobra uma grana, o uruguaio vai em uma Lan House e fala com os familiares.

Fiquei surpresa em ver que, principalmente, Maximiliano era bem informado. Quando me questionou sobre a faculdade que fazia, e informou que seu irmão é jornalista do maior jornal do Uruguai, comentei que era bolsista, não pagava a faculdade, e perguntei a ele se conhecia o Prouni. Para minha surpresa, não só conhecia como comentou o problema que aconteceu, no ano passado, com as provas do ENEM.

E o futuro? Sólo Dios sabe! Mas, Maximiliano disse que ainda pensa em cursar uma faculdade, quem sabe antropologia. Sabemos que um trabalho de pesquisa envolve teoria e prática, e segundo o uruguaio, a parte prática ele já desenvolveu, falta elaborar sua teoria. O amanhã para Juan ainda é incerto. Vamos viver a vida, cada um da sua maneira, com mais ou menos aventuras... escolham!!

Estoy de vuelta, personas!


Por Patricia S. Gaglioti