segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Desmarginalizar a Arte Urbana



"Várias cores, plural de formas, combinado de texturas.
Romã, hortelã, maçã, anis, erva-doce e maracujá.
Menta, framboesa ou camomila.
Bem vindos ao projeto Chá".

O poema que abre a primeira postagem do blog das meninas do Coletivo Chá, criado em 2010, deixa claro a idéia do trabalho desenvolvido. Nos muros cinzas de Joinville, a arte delas colore, provoca, aguça os sentidos. Na palavra das próprias meninas, dão vida ao concreto da cidade.

Este foi um ano de muito trabalho e reconhecimento para o Coletivo Chá. O projeto das cinco meninas que enfrentam a madrugada para dar vida e movimento àquilo que é inanimado foi tema do documentário de um acadêmico de jornalismo.

Em 2011 também, as meninas marcaram presença no N Design, um evento realizado pelos e para acadêmicos e profissionais da área, e que chegou em sua 21º edição. O detalhe é que não apenas estiveram presentes, como ofereceram uma oficina no evento, ou seja, passaram adiante várias das idéias que habitam essas cucas criativas.

Na Univille, participaram do GAMPI, um evento que ocorre desde 2009, também voltado a profissionais e estudantes de design. O Coletivo Chá foi convidado pela Lez a Lez para customizar latões e painéis expostos nas vitrines das cinco lojas em Santa Catarina. Para ter uma breve idéia do que as meninas aprontaram confiram o vídeo.

E para fechar com chave de ouro, as meninas inscreveram e tiveram aprovado um projeto no SIMDEC - Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura. Do que se trata? Disseminar em três escolas públicas seus conhecimentos. Jogaram a semente no vento. Daqui um tempo, os muros de joinville estarão floridos e ainda mais coloridos.


Confiram o bate-papo do Coletivo Chá com o blog do Che.



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Viviendo una vida loca

Dia 30, à tarde, sai da faculdade, às 14h15, para resolver algumas coisas na rua. E durante meu trajeto até a rua XV de Novembro, reparei a presença de malabaristas nos semáforos - um na Princesa Isabel, outro na João Colin e outro ainda na Blumenau. Por isso, fui pensando pelo caminho que seria muito interessante entrevistar algum deles, a fim de descobrir sua história, que convenhamos, aparentemente não é muito parecida com a da maioria da massa urbana.

Quando voltei para a escola, apenas o malabarista que estava na Princesa Isabel continuava lá. Entrei no Bom Jesus, pensei um pouco em como abordá-lo, falei com a professora Maria Elisa, peguei uma câmera no estúdio de foto e sai. Uma chuva que Deus mandava! Antes de atravessar a rua, na Princesa Isabel, vi que dois malabaristas estavam sentados em frente a uma loja de calçados. Atravessei e fui me aproximando. Quando cheguei perto, me apresentei dizendo que era estudante de jornalismo e gostaria de fazer uma matéria com eles. Os dois aceitaram.

Ao me sentar ao lado de um deles, o que estava mais distante disse algo que não entendi, mas percebi que não era brasileiro. Me disse, então, que era uruguaio. O outro, argentino.

Nem me lembro qual pergunta fiz a eles primeiro, só sei que não anotei nada em meu bloquinho, apenas seus nomes: Juan Pablo, 22 anos, argentino, e Maximiliano Danyelo, 24 anos, uruguaio. A entrevista se tornou uma conversa informal, e no fim das contas também fui entrevistada.

Maximiliano disse que entre os 17 e 18 anos saiu de casa com o objetivo de conhecer a América Latina. O propósito era viajar e depois voltar para casa, terminar o ensino médio e fazer faculdade, mas a aventura agradou tanto que voltar para o Uruguaio e levar a vida que todos levam não era mais seu objetivo. Segundo ele, quando saiu de casa tinha no bolso o equivalente a R$ 20,00. E de cidade em cidade, um trabalho aqui outro ali, passou por Bolívia, Chile e Brasil – devo estar me esquecendo de algum outro local. Ele me contou que foi casado com uma baiana durante dois anos, mas definitivamente, as regras já não o agradavam mais. E, por sinal, elogiou muito os baianos, muito acolhedores e humildes.

Chegou a voltar para o Uruguai, ficou um mês lá e há um mês está na estrada de novo. Passou por Itajaí, onde trabalhou com o companheiro argentino em uma obra por 20 dias, e há três chegou à cidade das Flores. Entusiasmados, os dois falaram também de Floripa, cidade maravilhosa! Como se eu não soubesse! Mas, confesso que senti um certo constrangimento de perguntar à Maximiliano como era a Bahia. Poxa, eu, brasileira, vou perguntar a um uruguaio como é um estado do meu país?! Deixa pra lá...

Intrigada, perguntei aos colegas onde eles dormiam. Me disseram, então, que um dia era em albergue, no outro em algum hotel e às vezes no pátio da igreja. Preferiam comer bem e dormir como desse. Inclusive, no dia anterior ao de nossa conversa, tinham dormido na igreja. Outra pergunta que não podia faltar: quanto vocês ganham??!! Um certo suspense, umas palavras indecifráveis e com uma certa insistência saiu: entre R$ 30,00 R$ 35,00 por dia.

E em relação aos seus pais? O que pensavam sobre esse estilo de vida? Maximiliano disse que o pai não concorda muito com a vida do filho, mas foi a opção dele... “Fazer-se-á” o quê? Não posso falar com convicção, mas parece que Juan não fala com a família. Quando sobra uma grana, o uruguaio vai em uma Lan House e fala com os familiares.

Fiquei surpresa em ver que, principalmente, Maximiliano era bem informado. Quando me questionou sobre a faculdade que fazia, e informou que seu irmão é jornalista do maior jornal do Uruguai, comentei que era bolsista, não pagava a faculdade, e perguntei a ele se conhecia o Prouni. Para minha surpresa, não só conhecia como comentou o problema que aconteceu, no ano passado, com as provas do ENEM.

E o futuro? Sólo Dios sabe! Mas, Maximiliano disse que ainda pensa em cursar uma faculdade, quem sabe antropologia. Sabemos que um trabalho de pesquisa envolve teoria e prática, e segundo o uruguaio, a parte prática ele já desenvolveu, falta elaborar sua teoria. O amanhã para Juan ainda é incerto. Vamos viver a vida, cada um da sua maneira, com mais ou menos aventuras... escolham!!

Estoy de vuelta, personas!


Por Patricia S. Gaglioti

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Projota!

Samurai

Projota

Cada inimigo seu vai te aplaudir de pé
Quando seu o escudo for o seu olhar e sua espada sua fé
Quando a sua meta for felicidade não vitória
Quem não se foca no presente não fica pra história
Irmão, você veio pra contar história ou pra escrever ?
Me diz, o quê realmente te faz feliz ?
Sei que nem todos lá no fim do túnel buscam luz
Fica difícil se a escuridão que te conduz
Já vi o oportunismo estar vestido de amizade
Nos aproveitadores da minha boa vontade
Mas me esquivei, risquei da vida os covardes
Porque quem vive entorno de mentira já está morto de verdade
Um só caminho é o bastante, suficiente
Num mundo louco onde maçã te oferece serpente
Já tentaram calar minha boca e calava
Mas só com o meu dedo do meio eu falei tudo que eu precisava

[Refrão ]

Quando cortaram os meus braços eu chutei
Quando cortaram minhas pernas eu dei cabeçada
Quando cortaram minha cabeça eu mordi na jugular
E não soltei por nada, não soltei por nada !
Quando cortaram os meus braços eu chutei
Quando cortaram minhas pernas eu lutei, como um samurai...

[Verso 2]

Sem sensionalismo, sem sentimentalismo
Ser pobre eu sou, mas querer ser é masoquismo
Não enalteço a riqueza ou a pobreza
Enalteço a luta por comida, vontade na mesa
De quem não teve escolha sobre a própria profissão
Se eu tive a minha me calar é omissão
Faço como as rabiola no fio
O vento tenta me levar mas permaneço onde o destino me conviu, ouviu ?
Um sonho se desfaz quando o olho se abre
Um ideal não se desfaz nem que a vida se acabe
Meu ideal já foi traçado
Não permitir que meu fracasso faça minha véia tomar banho gelado
Cada Amélia que dá a vida pela família
Ama algum João que merece bem mais que uma Brasilia
Agente se adaptou ao mundo feroz
Agora é hora de fazer com que o mundo se adapte a nós

[Refrão ]

Quando cortaram os meus braços eu chutei
Quando cortaram minhas pernas eu dei cabeçada
Quando cortaram minha cabeça eu mordi na jugular
E não soltei por nada, não soltei por nada !
Quando cortaram os meus braços eu chutei
Quando cortaram minhas pernas eu lutei, como um samurai...

E o que diria seu pai te vendo caído, irmão ?
Isso depende do motivo de se estar no chão
Alguns estão lá por nem saberem levantar
Meu rap é a mão que se estende pra te ajudar
Vem, sei que seu corpo ta cansado samurai
Vão derrubar seu corpo mas sua alma não cai
Eu sei que alguém acredita em você
Mas e você ? Acredita em você ?
Eu acredito em você !
Colegas eu tenho 20, amigos eu tenho 6
Que eu vejo sempre só 4, que eu posso contar, só 3
Quando eu cair, já era, poucos aí se comovem
Em alma eu vou estar, olhando, tirando a prova dos nove
Alguns vão falar ( volta ), e outros vão dar (adeus)
Se foi o tal de projota? ou ( ow Tiago morreu) ...
Mas hoje ainda estou vivo, não vão comer do meu pão
Só quero deixar bem claro, os verdadeiros eu sei quem são

[Refrão ]

Quando cortaram os meus braços eu chutei
Quando cortaram minhas pernas eu dei cabeçada
Quando cortaram minha cabeça eu mordi na jugular
E não soltei por nada, não soltei por nada !
Quando cortaram os meus braços eu chutei
Quando cortaram minhas pernas eu lutei, como um samurai...

Fui no show do Projota e do Rashid ontem, muito bom mesmo, a galera cantando a plenos pulmões e os caras emocionados lá encima do palco cantando junto, suando junto, na adrenalina das letras passando a sua verdade.Eu só conseguia pensar a cada frase: "pode crer!", porque tem gente que acha que Rap só fala de desigualdade, mas eu achei um outro lado desse conceito, o lado que o cara filosofa pra caralho nas suas rimas.Botei fé brother!

Foco, Força e Fé.


[Ana Hemb]

domingo, 3 de abril de 2011

Carta ao presidente.

Marcelo D2

O Brasil quer mudar, crescer, pacificar,
Com uma justiça social que tanto alguns tentam conquistar.
Se em algum momento algum político conseguiu despertar a esperança.
O final da historia é uma lambança.

Nosso povo constata que promessas não faltam,
E a corrupção continua alta.
Eu não venho por meio desta com protestos destrutivos.
Ao contrário, apesar de sofrimento injusto e desnecessário.

Colapso?
Não somos fãs de canalhas.
Terra para o povo e não me venha com migalhas.
Soberania pais, Da onde vêm essas idéias?
E o tal desenvolvimento econômico?
Pra mim, só miséria

Déficit habitacional.
É favela pra todo canto.
Me lembro de uma reforma agrária
Que assegurasse a paz no campo.

Quando você diz justo, vem de justiça, não é?
Como vamos manter a calma se a justiça é só para a ralé?
Como você disse:
Eu quero a verdade completa.
Como todos os brasileiros querem a verdade completa.

Que segurança que o governo tem a oferecer à sociedade brasileira?
Aí só pode estar de brincadeira.
Mas cá entre nós, na verdade, quer saber?
O que todo brasileiro quer é mudar pra valer.

Sentimento predominante entre as classes ainda é
Qual seria a diferença do Luiz pro José?

Eu sei,
Ninguém precisa te ensinar a importância do controle da inflação.
Mas o Brasil solidário não apareceu aqui ainda não.
Minha mãe sempre dizia que o exemplo vem de cima
E agora Silva, você tá em cima.

Uma vida sindical bonita, ao lado dos trabalhadores.
Nunca se esqueça! ao lado dos trabalhadores.
Parece que a economia é o mal da nação,
Mas ao meu ver, o mal tá na corrupção.

Não tem dinheiro pra educação, segurança,
Saúde então, nem se fala.
Enquanto isso neguinho tá carregando dinheiro na mala.
As cadeias estão cheias de pretos e nordestinos como nós.
Mas os verdadeiros criminosos são os que têm a voz.

Se você não sabia de nada,
Então não está fazendo teu trabalho direito.
Afinal de contas, você é o presidente eleito!

Volto a dizer:
O sacrifico continua dos mais necessitados
Que ainda andam esquecidos e colocados de lado.
O que nos move aqui
É a certeza que o Brasil é bem maior do que isso.
Quando precisar dos que querem o bem
Estamos aí, prontos pro serviço.

Desculpa se eu entendi algo errado.
Mas estas aqui são as minhas palavras,
Ou melhor, as palavras daqui de casa

Familia brasileira,
Honesta e trabalhadora.
Como quase todas:
Honesta e trabalhadora.

Sem mais delongas,
Não repare o sorriso amarelo,
Um abraço do ainda amigo.
Marcelo,
Rio de janeiro, 28 de fevereiro de 2006.


Acho perfeitamente válida a idéia.

[Ana Hemb]

sexta-feira, 18 de março de 2011

Projeto Paralelo.




Então, como devem ter percebido, há séculos que a Gabi não posta nada.
Me entristece saber que palavras tão sinceras e claras não passem pelo blog do Che, mas em seu projeto paralelo eu pude ver que o ideal do escritor ainda não morreu nela, e disso eu me orgulho.Quem quiser ver, eu indico, como sempre.


"burning cadence,

é um desabafo e um conforto."


Gabriela Schmidt




[Ana Hemb]



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Desabafo

Vida. Ordem cronológica de fatos. Resume-se em 3 acontecimentos chave: Nascer, crescer e morrer. Imprevisibilidade, a melhor palavra que define a vida.

Esse dia vai entrar para a história. 20 de janeiro de 2011. Dia da divulgação dos classificados no vestibular da UFSC. Dia em que conheci o céu, sentei nas nuvens e até tomei um chá com o anjo Gabriel para pedir-lhe uma ajudinha. Pena que minha visita foi curta, e que de um salto voltei à terra, acredito que ultrapassei o chão.

Acordei às 7h do dia 20, ia acompanhar minha avó ao médico. Estava tranqüila, a divulgação do resultado não abalava meus nervos, até achei estranho. Juro que senti falta do friozinho na barriga, ele dá mais emoção aos fatos, um pouco de adrenalina não faz mal a ninguém. Aquela neutralidade em que me encontrava não tinha graça.

Procurei manter o pensamento positivo, mentalizando meu nome na lista dos aprovados, como se a positividade naquele instante pudesse transportá-lo àquela sagrada listagem.

Orei antes de sair de casa e pedi a Deus que me iluminasse e que fosse feita a sua vontade em relação ao resultado. Mas com receio, logo me ratifiquei: melhor dizendo, me ajuda a passar, Senhor!

Sai de casa por volta das 8h e 30min., e retornei às 10h. Agora não tinha mais saída. O friozinho na barriga apareceu e logo se tornou “friozão”, a saliva começou a faltar, as mãos a suarem, eu olhando para o computador, o computador olhando para mim... cri...cri...cri.

Vamos acabar com isso de uma vez por todas. www.vestibular2011.ufsc.br. Resultado oficial (por curso)... e a saliva faltando... Jornalismo. Primeiro Período. Segundo Período. E eu? Esqueceram de mim II.

Resolvi conferir meu boletim de desempenho individual. Minhas notas foram bem melhores do que as do ano passado. Logo abaixo das notas, aparecia a posição em que me encontrava no curso. 63. A universidade disponibilizava 60 vagas para o curso de jornalismo. Apenas 3 vagas me distanciavam do meu sonho. Chorei. Chorei de emoção, pois a probabilidade de entrar na 2º chamada era grande. Liguei para minha mãe e compartilhei com ela o meu choro. Havia sentido a emoção que tanto almejei. Meu sonho estava a 3 passos de mim.

Como boa menina que sou, fui curtir minha alegria e também angústia limpando a casa. O dia correu bem, sem maiores transtornos, a não ser as gordurinhas dos armários da cozinha. Odeio limpar a cozinha.

Chovia muito e decidi ligar para minha mãe. Estava ainda no centro da cidade e me notificou que havia saído do emprego. Engoli seco. A música que cantarolava enquanto fazia a faxina, deixei de cantarolar. E estou lá, pensando na vida quando de repente: Tim. Deu-me um estalo. Parei o que estava fazendo e corri ao computador. Novamente entrei no site da UFSC. Agora fui conferir a relação candidato/ vaga.

Tum, tum. Algo estranho. Parecia que começava a descer das nuvens. Total de vagas: 60. Vagas para os candidatos não participantes das ações afirmativas: 42. Queda livre. Se pudesse me enterrava em um buraco naquele exato momento. Doeu. Doeu de mais. Eu enxergava 21 cabeças na minha frente, e eu tentando ultrapassá-las. Terrível.

Agora, as lágrimas que percorriam meu rosto eram de tristeza, sentia meu futuro na universidade correr por entre os dedos, e seria difícil segurá-lo. Liguei para o meu namorado a fim de desabafar. Tentei, depois disso, retornar ao meu eixo, mas a revelação não saia da minha cabeça.

Imprevisibilidade. A vida é um piscar de olhos. Agora estão abertos, em segundos podem se fechar. E de todos os acontecimentos temos de tirar lições. Depois de tudo isso, pensei: pelo menos já tenho assunto para minha primeira crônica. Escrever é uma das coisas que me consolam.

Patricia Stahl Gaglioti